OFICINA - FIOS QUE TECEM JANELAS QUE SE ABREM PARA O MAR

  O tema surge a partir das provocações feitas na disciplina Processos Criativos, que aconteceu no segundo semestre de 2004, pelo Programa de Pós-Graduação em Arte Visuais, onde trabalhamos com alguns elementos para criação. Um deles foi um cordão marrom de papel... O processo criativo é engraçado, de repente você tem um fio, uma idéia, uma provocação, que vai virando semente, germinando, criando, ruminando, se desenrolando, e nos abre, como em janelas, um horizonte de possibilidades que vai se concretizar na obra, no produto, na plástica, no texto, na atividade... no mar?

Nair coloca que “viver é seguir um fio de vida tramado com outros muitos fios simultâneos que se tornam ‘visíveis' nas ressonâncias e nos interstícios de cada trajetória”.(Kremer, 2003; p.221). A partir dele, do fio, fui gestando as atividades lúdicas e artísticas tal qual Teseu no labirinto do Minotauro, desenrolando o Fio de Ariadne. A idéia é criar um espaço onde seja possível refletir o fio, a vida, enfim, as diversas possibilidades da re-existência.

O fio da exposição não será marrom, mas azul...! Azul Pancetti, numa tentativa de desvelar o pintor apaixonado por marinhas, que passou alguns anos do inicio do século passado, naquele lugar. Embriagado com o mar, além de pintar, escrevia cartas aos amigos e aos filhos... Numa delas, à sua filha, ele dizia que “Natal deveria ser, pois, a oferta de todas as crianças do mundo. Deveria ser, mas não é, porque nem todas as crianças podem brincar e ganhar presentes nesse dia. (...) Daí as injustiças sociais: crianças que brincam e ganham presentes e crianças que nada tem, nem ao menos o que comer”.(1948) Passados 57 anos, o que dizer em resposta ao artista? O que contar do mundo de hoje, o que contar de nossas vidas?

Buscando desvelar a casa e dialogar com Pancetti, Mari abre a porta no virtual e deixa, através de fios, o mundo entrar. Tiago deixa a porta entreaberta, é um convite? Adentrando a casa, quatro artistas materializam suas impressões em obras. Ana Fraga busca a mulher, suas desilusões, suas perdas, seus ganhos, cacos de louça, Anitas, Leonídias, Marias. Isabel, busca a memória, o tempo que passa e que transforma, imagem, casa, labirinto. Viga tece com seus fios o retrato da África, do Brasil, dança de memórias, pontes, rios e mar. Milli desenrola o fio azul Pancetti, em busca do pintor, dela mesma, de nós? Descasca e descobre, passado presente, o imutável e o constante movimento, sombra e luz... Onde as nossas vidas se encontram nas obras dessas mulheres?

Toda quinta-feira estaremos desenrolando e tecendo fios pela casa 401.... Quem quiser entrar no labirinto azul, sinta-se à vontade...

  DIAS DE OFICINAS:
19 de maio, 02, 09 e 16 de junho
Inscrições na Aliança Francesa. Tel. 3336-7599

 Bibliografia
Folha de São Paulo, São Paulo, domingo, 01/12/74,
Um marinheiro chamado Pancetti in http://www1.folha.uol.com.br/folha/almanaque/ leituras_31mai00.htm , acesso em 03/10/04

KREMER, Nair. Deslocamentos: Experiência de Arte-educação na Periferia de São Paulo. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo / Imprensa Oficial do Estado de São Paulo / Vitae, 2003.

 

 

 

 

Ana Paula Albuquerque

 

Formada em Desenho e Plástica pela Universidade Federal da Bahia-UFBA no ano de 2001, cursou por um ano o curso de Gravura em Metal no Museu de Arte Moderna da Bahia, participando da Exposição Coletiva Destaque 2001 / MAM.

Atualmente é Mestranda do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da UFBA, pesquisando as atividades lúdicas e artísticas e a inclusão social no trabalho de ONGs. Participa do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e Ludicidade – GEPEL/FACED/UFBA.

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