“Meu nome é boemia"

Renata Maia

É assim que o veterano ator Wilson Melo responde quando perguntado sobre seu nome completo. Aos 70 anos de idade e 56 de carreira, ele tem uma vitalidade invejável. “Meu sonho é poder atuar até quando meu organismo agüentar”. São mais de cem peças, aproximadamente 20 filmes, quatro prêmios como melhor ator (entre eles o Prêmio Copene), além de algumas aparições na TV.

Quem conhece o ator por suas grandes performances no teatro baiano, nem imagina que Melo já foi representante de laboratório e gerente de uma loja de máquinas pesadas. “Apesar de não gostar da área comercial, fiz isso por um longo período, porque o mercado de artes cênicas baiano não paga bem e eu precisava alimentar minha família”, comenta. Mas durante o período que estava no mercado formal de trabalho, não deixou de atuar. Trabalhava pela manhã, dormia a tarde e ensaiava as peças teatrais à noite.

Um dos seus papéis marcantes foi Quincas Berro D’Água. Representou esse personagem em três décadas diferentes e, em todas elas, o papel teve destaque na dramaturgia brasileira. Em uma das apresentações, quando a peça foi escolhida para representar o Brasil no Festival de Teatro de Caracas (Venezuela), ele contou com a ajuda do governador do estado para ser dispensado do trabalho, mas, quando voltou da temporada, foi demitido. A última apresentação dele como Quincas foi em 96, na inauguração da Sala do Coro do Teatro Castro Alves.

Além desse personagem, vários outros tiveram destaque em sua carreira, como o velho Olavo, da peça “Horário de Visita”, Vasco Moscoso de Aragão, do espetáculo “Velhos Marinheiros”, entre outros. Inclusive já teve um espetáculo escrito com personagens especialmente para ele e Nilza Spencer, como a peça “Lábios que Beijei”, de Paulo Henrique Alcântara. Também participou de inúmeros filmes, como “Dona Flor e seus Dois Maridos”, “Tenda dos Milagres” e “Jubiabá”. Atualmente, Melo se prepara para viver o médico Dr. Marcolino no filme “Cascalho”, de Tuna Pinheira, que deve começar as gravações em julho, no interior baiano.

 

Um bon vivant

Na época de escola, o ator chegou a ser apelidado de “anormal”, por suas travessuras. Mas foi num recital de poesias do Colégio Hugo Baltazar, que esse talento foi revelado e não parou mais. Hoje, além dos ensaios teatrais, Wilson freqüenta diariamente os bares do Rio Vermelho, onde mora desde dos 11 anos de idade. Muito conhecido e admirado no bairro, não só por ser um ator e sim por sua personalidade, pois trata todos sem nenhuma diferença.

Seu colega de bar, o videomaker Ricardo Spencer, 26 anos, o admira muito não só por suas atuações, mas por sua vitalidade. “Wilson é um dos maiores nomes do teatro baiano e um ótimo parceiro de mesa. Quero chegar à idade dele com todo esse profissionalismo e essa vontade de viver”, diz.

Em casa, Melo se dedica a incorporar os personagens que interpreta e à sua mulher, dona Vilma, com quem já é casado há 45 anos, com quem tem três filhos. Nenhum deles optou por seguir os passos do pai, o que, para Melo, de certo modo é um alívio. Há cinco meses esse ator que se emociona com pequenas coisas, tem ficado babando quando vê sua netinha Fernanda, que nasceu em dezembro e deixa o avô bobo só de dá um sorrisinho.

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